Afinal, a Rio+20 foi um sucesso ou um fracasso?

Originalmente publicado no saudoso Mercado Ético e na Plurale

A sociedade civil organizada diz que o documento final da Rio+20 foi um estrondoso fracasso. Para esse grupo, lamentavelmente não se chegou a nenhum acordo ambicioso no que se refere à transição a uma economia realmente verde. Já os representantes da ONU e da maioria das delegações dos países participantes dizem que foi um sucesso – para alguns, um grande sucesso -, pois mostrou um forte compromisso político dos chefes de Estados e de Governos.

E você aí do outro lado da tela, vendo um grupo de pessoas decidindo assuntos que irão impactar diretamente a sua vida, o que acha de tudo isso?

Agora que a conferência da ONU passou, tenho feito essa pergunta a muitas pessoas. Quase todas classificam o resultado do encontro como ruim (não exatamente com esse adjetivo, mas com um palavrão que, devo admitir, expressa melhor a ideia). Uma amiga disse que para se chegar a um documento pobre daqueles, não era preciso reunir 190 delegações de países no Rio de Janeiro. Para ela, foi um desperdício de tempo e dinheiro. “Talvez uma troca de emails fosse o suficiente”, brincou.

Será?

A meu ver, a Rio+20 foi exatamente do jeito que tinha que ser e estava planejada para ser. ONGs reclamam com muita razão dos resultados finais alcançados, assim como reclamariam, também com razão, se o acordo fosse ambicioso. Um dos papéis dessas organizações é justamente esse: pressionar. Se está ruim, pressionam para ficar menos pior. E se está bom, para ficar ainda melhor. Esse grupo nunca pode estar satisfeito. Se estiver, algo está errado.

Já os chefes de nações… o que dizer deles? Diante do quadro político mundial, acho surpreendente que tenham chegado a um consenso, que se refletiu em um documento de 49 páginas. Ficaria surpreso até mesmo se fosse apenas uma página assinada de comum acordo por todas as delegações.

Foi o acordo necessário para dar impulso à economia verde? Não! Mas aqui também é preciso fazer o exercício de imaginar o que querem os “donos do poder”. A resposta está na ponta da língua: “continuar no poder”. Eles estão preocupados com as próximas eleições. Querem se reeleger ou eleger um sucessor. Vale tudo nessa briga, até beijar o capeta na boca, como se tem visto descaradamente na disputa pela prefeitura de São Paulo. E nada mostra que as coisas são muito diferentes em outros países.

Bom, voltando, é inegável que o documento da ONU foi tímido. Só para citar alguns pontos, não há recomendação para se acabar com os subsídios aos combustíveis fósseis nem o estabelecimento dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.

Mas a Conferência da ONU seria um sucesso mesmo se acordo nenhum fosse fechado. Toda a mobilização que o evento gerou contribui para o debate sobre o desenvolvimento sustentável. E mesmo com um documento fraco, é preciso comemorar alguns acordos e movimentos paralelos para que a economia se torne gradativamente mais verde. Empresas firmaram pactos, novas tecnologias mais limpas foram apresentadas, a sociedade civil deu seu recado, mesmo alguns políticos reunidos na C40, reunião dos prefeitos das 40 maiores cidades do mundo, apresentaram alternativas interessantes para o desenvolvimento sustentável. Então, saiu muita coisa boa da Rio+20 (veja mais no Especial Mercado Ético Rio+20).

Mas se você me perguntar se tudo isso é suficiente para o surgimento de uma economia limpa e socialmente inclusiva, aí eu já não sei. Tendo a concordar com Jonathan Baillie, biólogo britânico membro da Sociedade Zoológica de Londres, que diz: “Temo que apenas uma grande catástrofe nos obrigará a fazer as mudanças necessárias”.

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