Homem também corre risco de extinção

Originalmente publicado em 2008, no saudoso portal Mercado Ético

Ainda não encontrei a espécie humana em nenhuma lista de animais ameaçados de extinção. Já pensou? Que maravilha seria a Terra sem os homens! A vida seguiria seu rumo e somente a casualidade dos desastres naturais é que poderia destruir uma coisinha aqui e outra ali.

É justamente esse exercício de imaginação, do mundo livre dos seres humanos e do seu rastro de sujeira, que propõe o documentário Life after people (Vida depois dos homens), produzido pelo The History Channel. Não surpreendentemente, o equilíbrio da vida voltaria ao normal tão logo a população humana desaparecesse da face da Terra.

O verde e a vida selvagem tomariam conta das cidades em apenas algumas décadas. Nem mesmo imponentes selvas de concreto resistiriam às reações químicas naturais e sucumbiriam diante da falta de manutenção.

Em 10 mil anos, poucos traços da presença humana restariam no planeta. Do pó ao pó!

Esse cenário parece bem improvável. Afinal, somos 7 bilhões de humanos. Até 2050, a Organização das Nações Unidas (ONU) acredita que seremos 9 bilhões. E pensar que em 1950, éramos por volta de 2,5 bilhões.

Se de um lado a população humana está crescendo desenfreadamente, do outro, espécies estão simplesmente sumindo do mapa. Segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), entidade que busca soluções para o crescimento sustentável, 15.589 espécies correm risco de extinção.

Isso significa que um em cada quatro mamíferos, um em cada oito pássaros e um em cada três anfíbios deixarão de existir para sempre em um futuro próximo.

Obviamente, essa lista é mais uma que não inclui o homem. Mas, como explica o pessoal da Species Alliance, organização com o objetivo de divulgar agressões ao ambiente e suas consequências, a sobrevivência dos humanos depende direta e indiretamente de toda a biodiversidade. Sem o equilíbrio desse ecossistema, haverá uma extinção em massa. E o animal humano também estará ameaçado. A boa notícia é que esse quadro vai mudar. Mesmo que o homem desapareça, a vida continua.

Um exemplo dessa força de recuperação é Chernobyl, aquela cidade ucraniana que foi destruída por um acidente nuclear em 1986 (na época, Chernobyl fazia parte da então União Soviética). Aos poucos, a vida ali volta a florescer. Já não cabe mais chamá-la de cidade-fantasma. Até mesmo algumas pessoas voltaram a morar por lá (mesmo assim, eu não me arriscaria. Ainda não se sabe ao certo quão seguro é pisar por aquelas terras. Melhor ficar em Cotia mesmo).

Agora é hora de mudarmos nossos valores e criarmos novos padrões para o que chamamos de qualidade de vida. Contemplar e preservar as belezas naturais deveria estar no topo das prioridades de todo o mundo. Continuar destruindo tudo é destruir toda a vida no planeta, inclusive a nossa.

É fundamental termos a consciência de que são os homens os maiores ameaçados de extinção. Como vimos, o planeta se recuperaria (e vai se recuperar) completamente em alguns milênios. Pode parecer muito, mas o que é o tempo para quem não tem relógio?

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