Publicado originalmente em 2012, no saudoso Mercado Ético
A entrevista que fiz com o psicólogo professor da PUC-SP, em 2003 ou 2004, foi a que mais me marcou em minha carreira. Não por ter me dado notoriedade. Não deu! Inclusive a Viver Psicologia (hoje se chama Viver Mente e Cérebro), a boa revista que iria publicar o pingue-pongue, esqueceu de dar o crédito ao distinto repórter. Também não foi pelo fato de se tratar de uma super celebridade no mundo da psicologia. Já entrevistei pessoas bem mais famosas do que ele (de outros universos, obviamente), como Sheila Carvalho, a ex-dançarina do grupo baiano É o Tchan, ou John Elkington, criador do conceito Triple Botton Line e já considerado um dos homens mais influentes do mundo.
O que me marcou mesmo foi a mensagem que ele deixou. O psicólogo acabara de lançar um livro que contava sua experiência no acompanhamento de pacientes que tinham parentes em estado terminal de câncer. Ao mesmo tempo, sua namorada lutava contra a doença. Ele sabia que a hora de sua companheira não estava longe.
E então lancei a pergunta obvia: O que a morte tem a dizer? Resumidamente, o psicólogo disse que a morte nos mostra que nosso tempo na Terra é curto. Portanto, existem coisas mais importantes para nos preocupar do que bens materiais e sucesso. É preciso, segundo a interpretação dele das palavras eloquentes da dona morte, dar mais valor aos relacionamentos. “Se o amor é o sentimento mais nobre que existe no ser humano, por que não cultivá-lo ainda mais?”, disse encerrando a entrevista.
E nos últimos dias a morte tem sussurrado bastante em nossos ouvidos. No fim de semana morreram duas personalidades que foram símbolos (para o bem e para o mal) em seus países.
Um é o ditador líder supremo da Coreia do Norte, Kim Jong-il, vitimado por um ataque no coração, sábado (17). Tomou o poder em 1994, ano da morte de seu pai, o então líder daquele país, Kim Il-Sung. Organizou diversos atentados, inclusive a explosão de um avião que matou 115 pessoas. Vivia ameaçando a vizinha Coreia do Sul e deixava o mundo assustado com ameaças de ataques nucleares sem precedentes. Ao povo, iludia com o culto à personalidade, sendo visto como um verdadeiro deus no país. Gerorge Orwell explica!
Um dia depois, no domingo (18), foi a vez do ex-presidente da República Tcheca, Václav Havel, partir.
Símbolo da luta pela democracia e pela liberdade, em 1989 defendeu manifestações não-violentas contra o terrível governo comunista, que havia deteriorado a economia e a moral da então Tchecoslováquia. Estava instaurada a Revolução de Veludo, nome muito apropriado por uma conflagração pacífica liderada por um homem ligado às artes.
O que a morte dessas duas importantes figuras políticas tem a dizer? Que ainda há muito espaço para ilusão e enganação no mundo.
Kim Jong-il estava à frente da dinastia comunista hereditária norte-coreana havia 17 anos, nos quais governou com mão de ferro um regime baseado no culto à personalidade.
O ditador era visto no Ocidente como um líder de perfil excêntrico. Analistas advertiam, no entanto, que tratava-se de um homem muito hábil e um grande estrategista.
Kim costumava ser ridicularizado por seus hábitos de playboy, sua cabeleira e seus sapatos de salto alto (para compensar a baixa estatura), mas essa imagem seria equivocada ou enviesada. Pária no resto do mundo, o ditador é visto “como um Deus” no país –era chamado de “querido líder”.
Kim Jong-il é o primogênito de Kim Il-Sung, fundador da Coreia do Norte comunista e idolatrado no país. Segundo a propaganda oficial, quando Kim Jong-il nasceu, em 16 de fevereiro de 1942, surgiram no céu uma estrela e um arco-íris duplo. Desde então, o monte Paekdu, onde teria nascido, é um lugar sagrado.
Vários analistas, porém, acreditam que ele nasceu num campo de treinamento guerrilheiro russo, a partir de onde seu pai empreendeu a guerra de resistência contra o Japão, até 1945.
Após obter um diploma universitário, em 1964, Kim começou a fazer carreira dentro do Partido dos Trabalhadores. Suas funções incluiriam a organização de atentados, como a explosão de um avião da Korean Airlines, em 1987, que matou 115 pessoas. Ele assumiu o controle do Partido dos Trabalhadores em 1994, no ano da morte do pai.