Publicado originalmente em 2013, no portal Itu
De todas as declarações referentes aos protestos que tomaram o Brasil nas últimas semanas, a mais infeliz até agora – com todo o respeito que tenho por seu emissor – foi feita por Jorge Pontual, da GloboNews. Na terça-feira (18 de julho de 2013) à noite, em uma tentativa infeliz de defender as coberturas televisivas do movimento, ele lançou algo do tipo: “se não fosse a TV, ninguém veria o que está acontecendo”.
A verdade nunca esteve tão longe disso. A Internet sim, como ocorreu na Primavera Árabe, vem sendo a ferramenta de comunicação primordial para que a população realmente saiba o que está ocorrendo nas ruas. Sem as mídias sociais – principalmente o Facebook e o Twitter – todos seríamos reféns de uma interpretação parcial e equivocada do que representa o Movimento Passe Livre (MPL) e seus desdobramentos. Enquanto muitos canais de TVs, rádios, revistas e jornais celebravam o sucesso da polícia no combate à depredação do patrimônio público, os manifestantes mostravam o seu lado da história, explicando os motivos de terem saído às ruas e mostrando em vídeos os abusos imperdoáveis de uma polícia treinada para defender um estado que não os representa.
Tanto quanto estabelecer uma nova geração de carapintadas, as manifestações decretaram o fim da ditadura das mídias tradicionais. Foi-se o tempo em que a big media decidia aquilo – e o tom daquilo – que o público recebia em casa.
Os carapintadas cibernéticos acabaram por soterrar essa lógica, que já há algum tempo andava moribunda. Colocaram em prática o que especialistas vêm anunciando há anos. Hoje, as pessoas decidem o que, onde e como receber conteúdos. Mais do que isso, há uma massa crítica que não quer apenas ligar a TV e receber verdades impostas de cima para baixo. A turma que percebeu o poder do mundo conectado – e esse não é um grupo pequeno – quer mais é ter um canal de pesquisa e de troca de ideias, onde a opinião, visão e transformação do mundo é feita colaborativamente e transmitida sem intermediários.