Rancho dos Gnomos: Um santuário em defesa da vida

Publicado originalmente no saudoso Mercado Ético e na revista Plurale

Esquizofrenia, psicopatia e cegueira. A novela Caras & Bocas, da Rede Globo, trata de assuntos polêmicos relacionados à natureza humana. Mas o que vem chamando mesmo a atenção do público é o caso do chimpanzé Xico. O macaco vive com um garoto e seu pai, que o “sequestraram” de um circo onde sofria maus tratos. No aconchego de um lar, o primata teria conforto e carinho mas, mesmo assim, estaria fora de seu habitat natural.

Queridos amigos, passamos por mais uma difícil prova de fé, nosso amado Bartô ficou livre aos 22 anos de idade. Em 12/09, parte da equipe técnica voluntária do Rancho dos Gnomos esteve presente no momento em que Bartô se desligava do plano físico. Em 2014, lamentavelmente Bartô foi diagnosticado com tumor de fígado, desde então vinha recebendo tratamento físico, energético e espiritual. Seu doce olhar atento a tudo e a todos e, seu forte rugido farão muita falta para todos nós. Nossa gratidão a espiritualidade e a todos que estiveram sempre presentes na vida desse incrível irmão. "Querido Bartô, foi uma honra para nós compartilhar a vida com você, que a espiritualidade amiga te receba e te ampare" Saudades, Nosso Amor está em você, Silvia e Marcos

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Passado distante – Carretas onde os animais de grande porte de circo passam a vida. Nesses ambientes é comum que eles sofram com problemas de desnutrição e perda de massa muscular.
O caso fugiu das telas de TV e alcançou a vida real. Enquanto parte do público se diverte com as peripécias de Xico, outra quer mais é ver o animal fora dali. Uma briga está sendo travada entre a Sociedade Mundial de Proteção Animal (WSPA, da sigla em inglês) e o autor da novela, Walcyr Carrasco. Para Bernardo Torrico, gerente de comunicação da WSPA, a Globo tirou o direito de liberdade do macaco. Já Carrasco defende-se dizendo ter certeza de que o animal é bem tratado e de que a entidade deveria checar antes de dizer qualquer coisa a respeito.

Enquanto a briga rola nos bastidores, a verdade é que milhões de animais continuam a ser vítimas da violência humana em todo o Brasil. Somente com o tráfico, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) estima que 38 milhões de animais sejam retirados da natureza todos os anos.

Circos também são um grande problema. Se de um lado a maioria deles tem autorização para manter os bichos em suas apresentações, do outro, o tratamento que dispensam é cruel. Os treinamentos são feitos a base de choques elétricos, chicotadas e pauladas, além de, na maioria das vezes, os animais serem alojados em espaços muito pequenos para seus tamanhos. Também inclui-se na conta as criaturas vítimas da imprudência humana, como aquelas atropeladas, queimadas em fios de alta-tensão, decapitadas por linhas de cerol ou simplesmente linchadas.

Marcas da maldade – Em muitos felinos, os caninos são serrados ao ponto de se expor a raiz, o que facilita a entrada de bactérias, resultando, muitas vezes na infecção do canal dentário de muitas animais
Não é sempre que os animais sobrevivem a todas essas desventuras. Quando têm essa sorte, precisam da ajuda de gente solidária, como Silvia e Marcos Pompeu, idealizadores da Associação Santuário Ecológico Rancho dos Gnomos (ASERG), em atividade há mais de 15 anos.

A equipe do Mercado Ético foi até Cotia, na Grande São Paulo, para ver como eram tratados os cerca de 400 animais que foram parar ali por causa do mais diverso histórico de violência. A reportagem descobriu um ambiente de paz, harmonia, saúde e felicidade para a bicharada.

Uma chance para a vida

Símbolo da crueldade sofrida em circo. A leoa Gaya teve seus dentes serrados, garras arrancadas e corpo queimado e era muito surrada para poder realizar os números que seu domador queria.

A leoa Gaya é o símbolo dos maus tratos aos animais no santuário. Marcos conta que ela ficou presa em um circo por nove anos, onde teve o osso da garganta deslocado, a escápula fraturada e adquiriu um problema renal. Seu treinador, segundo ele, foi preso recentemente por assassinato.

Ola pessoal! Desejamos um lindo dia pra todos vocês. 🐵🐵 www.kickante.com.br/ranchodosgnomos Foto: Biga Pessoa

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A veterinária Kelly Spitaletti manipulando florais. No Santuário os animais também são medicados com homeopatia e acupuntura térmica.

Quando chegou ao santuário, Gaya, assim como todos os animais, recebeu o tratamento mais natural possível. A veterinária Kelly Spitaletti, apesar de usar medicamentos alopatas, diz que prefere os florais, a homeopatia e a acupuntura térmica. Ela garante que tudo isso funciona melhor com os animais do que com os humanos. “Primeiramente, porque não há um preconceito dos animais”, acredita ela, “e os 5 sentidos, no reino animal, são mais aguçados o que potencializa o resultado”, completa.

Uma das maiores críticas de Marcos é à falta de educação no Brasil. Ele condena o tráfico justificado pela pobreza do povo e o assistencialismo sem que se passe conhecimento às pessoas. “Um programa como o Bolsa Família não tem valor nenhum se, além do dinheiro, o governo não oferecer educação. Muitas das pessoas atendidas pelo programa justificavam o tráfico como a única forma que tinham em ganhar dinheiro.

Só que mesmo com a assistência, muitos não pararam de fazer isso por falta de consciência do mal que estão fazendo”, diz.

Ele alerta que esse tipo de comportamento acaba voltando contra o próprio ser-humano. “Os jabutis, por exemplo, são responsáveis pelo replantio de diversas árvores na floresta. Se você os tira de lá, obviamente não vão mais exercer esse papel e diversas espécies de árvores passam a correr o risco de desaparecimento”, explica.

Marcos Pompeu apresenta o espaço voltado para programas de educação ambiental
Quando tomaram consciência do risco causado pela falta de conhecimento, o casal resolveu colocar a mão na massa. Há dez anos, convidou um pequeno grupo de crianças, que ouviu os primeiros relatos do Rancho dos Gnomos.

O tempo foi passando e a atividade, crescendo. Hoje, Silvia diz que o programa de educação ambiental da associação é um dos trabalhos principais de lá. São escolas, empresas e até mesmo órgãos públicos que buscam informações com o casal. As aulas são ministradas por ecologistas, veterinários, psicólogos e delegados na Cabana Ambiental, onde mostra-se exemplos de violência contra os animais.

“As pessoas saem daqui com uma mentalidade diferente de quando chegam. Dá para perceber que elas querem mudar as coisas”, conclui Marcos.

Arara canindé João 🌴 Foto: Biga Pessoa

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Saiba mais

A Associação Santuário Ecológico Rancho dos Gnomos (ASERG)  atua há mais de 15 anos, em Cotia-SP, auxiliando o Poder Público e respectivos órgãos ambientais 24 horas por dia, para amparar animais apreendidos de tráfico, circos, vítimas de maus-tratos, etc. A manutenção dos recintos, alimentação, medicação etc e a propagação da educação ambiental são as principais atividades da ONG.

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Declaração Universal dos Direitos dos Animais

Preâmbulo

Considerando que todo o animal possui direitos.

Considerando que o desconhecimento e o desprezo destes direitos têm levado e continuam a levar o homem a cometer crimes contra os animais e contra a natureza.

Considerando que o reconhecimento pela espécie humana do direito à existência das outras espécies animais constitui o fundamento da coexistência das outras espécies no mundo.

Considerando que os genocídios são perpetrados pelo homem e há o perigo de continuar a perpetrar outros.

Considerando que o respeito dos homens pelos animais está ligado ao respeito dos homens pelo seu semelhante.

Considerando que a educação deve ensinar desde a infância a observar, a compreender, a respeitar e a amar os animais.

PROCLAMA-SE O SEGUINTE:

Art. 1º

Todos os animais nascem iguais perante a vida e têm os mesmos direitos à existência.

Art. 2º

1. Todo o animal tem o direito a ser respeitado.

2. O homem, como espécie animal, não pode exterminar os outros animais ou explorá-los violando esse direito; tem o dever de pôr os seus conhecimentos ao serviço dos animais.

3.Todo o animal tem o direito à atenção, aos cuidados e à proteção do homem.

Art. 3º

1. Nenhum animal será submetido nem a maus tratos nem a atos cruéis.

2. Se for necessário matar um animal, ele deve de ser morto instantaneamente, sem dor e de modo a não provocar-lhe angústia.

Art. 4º

1. Todo o animal pertencente a uma espécie selvagem tem o direito de viver livre no seu próprio ambiente natural, terrestre, aéreo ou aquático e tem o direito de se reproduzir.

2. Toda a privação de liberdade, mesmo que tenha fins educativos, é contrária a este direito.

Art. 5º

1. Todo o animal pertencente a uma espécie que viva tradicionalmente no meio ambiente do homem tem o direito de viver e de crescer ao ritmo e nas condições de vida e de liberdade que são próprias da sua espécie.

2. Toda a modificação deste ritmo ou destas condições que forem impostas pelo homem com fins mercantis é contrária a este direito.

Art. 6º

1. Todo o animal que o homem escolheu para seu companheiro tem direito a uma duração de vida conforme a sua longevidade natural.

2. O abandono de um animal é um ato cruel e degradante.

Art. 7º

Todo o animal de trabalho tem direito a uma limitação razoável de duração e de intensidade de trabalho, a uma alimentação reparadora e ao repouso.

Art. 8º

1. A experimentação animal que implique sofrimento físico ou psicológico é incompatível com os direitos do animal, quer se trate de uma experiência médica, científica, comercial ou qualquer que seja a forma de experimentação.

2. As técnicas de substituição devem de ser utilizadas e desenvolvidas.

Art. 9º

Quando o animal é criado para alimentação, ele deve de ser alimentado, alojado, transportado e morto sem que disso resulte para ele nem ansiedade nem dor.

Art. 10º

1. Nenhum animal deve de ser explorado para divertimento do homem.

2. As exibições de animais e os espetáculos que utilizem animais são incompatíveis com a dignidade do animal.

Art. 11º

Todo o ato que implique a morte de um animal sem necessidade é um biocídio, isto é um crime contra a vida.

Art. 12º

1. Todo o ato que implique a morte de um grande número de animais selvagens é um genocídio, isto é, um crime contra a espécie.

2. A poluição e a destruição do ambiente natural conduzem ao genocídio.

Art. 13º

1. O animal morto deve de ser tratado com respeito.

2. As cenas de violência de que os animais são vítimas devem de ser interditas no cinema e na televisão, salvo se elas tiverem por fim demonstrar um atentado aos direitos do animal.

Art. 14º

1. Os organismos de proteção e de salvaguarda dos animais devem estar presentados a nível governamental.

2. Os direitos do animal devem ser defendidos pela lei como os direitos do homem.

(*) A Declaração Universal dos Direitos dos Animais foi proclamada pela UNESCO em sessão realizada em Bruxelas, Bélgica, em 27 de Janeiro de 1978.

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